Hoje o momento de reflexão
não virá com uma simples imagem e um pequeno texto. Resolvi compartilhar com
vocês uma bela entrevista de uma das pessoas mais geniais que a moda já viu
neste planeta. Um dos senhores mais copiados em todo o mundo- KARL LANGERFELD (
Diretor criativo da Chanel desde 1982), que fala sobre a necessidade de se
reinventar,o que é moda, o que é fashion. Confira a seguir a entrevista realizada em Soho em NY:
Você é famoso por sua capacidade de se
reinventar sempre.
Karl Lagerfeld - É preciso. E não tinha nenhuma relação com o Brasil. Quando surgiu
o convite, achei que seria interessante fazer algo em parceria com os
brasileiros.
Os brasileiros não têm tradição e projeção mundial na moda.
Karl Lagerfeld - Vocês estão fazendo bem. Têm que lutar com
criatividade, inventando coisas novas.
Seu nome está ligado ao luxo. Mas sua marca, Karl Lagerfeld,
unificou a linha cara e a popular para criar um meio termo. Não teme se
associar ao popular?
Karl Lagerfeld - Medo nenhum. Gosto da ideia de criar ou o “mais
caro” ou o “menos caro”, mas jamais o “barato”. Pessoas são baratas, mas a moda
tem que ser acessível. Sou muito bom na alta costura, mas isso não significa
que não possa fazer o oposto.
O caro é melhor e mais fashion?
Karl Lagerfeld - Não. Pelo contrário. A noção de que para estar
na moda é preciso comprar coisas caras é antiga. O mesmo com design. Há móveis
bons a preços populares.
A ideia do que é moda mudou?
Karl Lagerfeld - Moda hoje é completamente diferente do que era há
dez anos. O mundo mudou. É bom. Um país que se apega demais ao passado não tem
futuro.
Você foi o primeiro a criar para a H&M e causou
revolução. Isso mudou sua forma de fazer moda?
Karl Lagerfeld - Completamente. Sempre quis isso para a minha
própria marca (Karl Lagerfeld). Se quisesse ser como Fendi ou Chanel, teria de
gastar bilhões. Sempre quis que minhas criações fossem usadas pelo máximo de
pessoas possível. Finalmente consegui.
Mas em geral estilistas querem o contrário, ter seu nome
associado ao raro e exclusivo.
Karl Lagerfeld - Sim. Mas um estilista que faz coleções populares
ainda é um estilista. É o mesmo ofício. Não é porque é mais popular que tem de
ser mal feito, sem graça ou feio. Esta ideia é ultrapassada.
No Brasil, ainda há a ideia de que o fashion é caro.
Karl Lagerfeld - É passado. Não há razão para se gastar fortunas ou
se vestir mal se você não tem muito dinheiro. É preciso que haja opções.
Você tem o mesmo prazer em criar para a Chanel, Fendi, sua
própria marca e outras marcas mais populares?
Karl Lagerfeld - Nunca comparo. Gosto de tudo. Adoro criar o
luxo, mas também adoro criar produtos acessíveis. É estimulante e me faz feliz
poder criar para diferentes públicos. Gosto de liberdade. Poderia ter ficado
muito isolado se ficasse restrito ao mercado de luxo. Mas me renovo. É o único
jeito de sobreviver. A mente está sempre atualizada. É preciso ser oportunista.
E não há nada de mal nisso.
Moda é arte ou artesanato?
Karl Lagerfeld - É mudança, sobre o que as pessoas usam e sobre o
que expressa a alma do momento. Moda é artesanato. Ainda que seja muito
importante, não é arte. E admiro as pessoas que têm paciência para costurar. Eu
não tenho. Para mim é fácil ter ideias, mas alguém tem de executá-las. Alguns
vestidos da alta costura levam até três mil horas para serem feitos. Já eu os
imagino, desenho... É fácil. Mas o trabalho que está por trás chega a me
assustar quando penso nele.
Você já comentou que, por ter crescido em uma cidade
portuária (em Hamburgo, na Alemanha), sua mãe dizia que ali era a porta do
mundo.
Karl Lagerfeld - Sim. E segui seu conselho. Quando comecei na
Chanel, diziam: “Não toque nisso. Está morto”. Todos vinham tentando reviver a
marca até então e não haviam conseguido. O que mantém hoje a Chanel é meu
trabalho. Não há receita. Escuto minha voz interior. E isso é tudo.
Você sabe costurar?
Karl Lagerfeld - Sim, mas não costuro mais. Ainda assim, entendo
muito. Posso explicar qualquer problema técnico que um vestido tenha. É
importante. Para que um designer se considere alguém sério, deve saber de
costura. De outra forma, como é possível saber o está errado e encontrar uma
solução. Sou muito bom em encontrar soluções.
Isso é importante, nos dias de hoje, em que a moda é
comandada por grandes corporações.
Karl Lagerfeld - Exatamente. Sou a pessoa certa para o trabalho
que faço. Trabalho duro e não crio problemas.
Como vê esta nova era?
Karl Lagerfeld - É uma nova forma de se fazer e consumir o
fashion. E a moda se modifica rápido. Não temos o privilégio de querer que o
tempo se adapte aos nossos gostos. As pessoas têm de se adaptar. Caso
contrário, seremos esquecidos.
O que é elegância para você?
Karl Lagerfeld - A noção de elegância tem de ser reinventada. Os
antigos standards não são mais válidos. Hoje, elegância é se sentir bem com o
que você está vestindo. Se o que você veste tem a ver com você, seu estilo e
seu espírito, perfeito. Não é se vestir para ser aceito por um grupo. Ninguém
liga mais para isso. Todos os standards são de outra era. A elegância não
desapareceu. Só tomou outro aspecto.
Neste fim de semana, ocorreu mais um protesto contra a união
gay em Paris. Qual sua opinião?
Karl Lagerfeld - A sociedade moderna é assim e temos de aceitar
isso. Não podemos viver com os conceitos de outra era. Casais gays, com ou sem
filhos, têm de ter os mesmos direitos civis que os outros. O estado tem de ser
laico. Se quiserem se casar na igreja católica, protestante, na mesquita, na
sinagoga, aí é outra história. Mas legalmente eles têm de ser protegidos. É
muito egoísta da parte dos casais que se dizem normais não pensar nos direitos
dos outros. Isso não é muito cristão, aliás.
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